Violência toma
conta do Ipiranga e comunidade começa a se organizar
A sala da Associação Comercial – Distrital
Ipiranga lotada durante a última reunião do Conseg Ipiranga, realizada em 27 de
agosto, já dava sinais de que a onda de insatisfação chegou ao bairro e que a
comunidade começa a arregaçar as mãos para cobrar das autoridades presentes
mais que blá blá blá.
Para desespero das pessoas que circulam
pelo bairro, agora temos mais uma modalidade de criminalidade: arrastão. Isso
mesmo! O alvo são carros que param no semáforo da rua Vergueiro, altura dos
6.000. Henrique, que no último dia dos pais passava pelo local com seu filho,
foi alvo deste tipo de crime. Quanto ao infrator, cerca de 10 moleques que se
esconderam no posto de gasolina abandonado ali próximo e que há meses vem sendo
denunciado no Conseg Ipiranga que o local tornou-se abrigo de moradores de rua
e de acúmulo de lixo.
O que o poder público espera para agir?
Talvez que o local pegue fogo, porque o risco é iminente. Segundo o subprefeito
do Ipiranga, Luiz Henrique Girardi, os proprietários estão sendo intimados a
retirar os tanques e bombas do local, como primeiro passo para a interdição.
Enquanto isso, nós cidadãos que pagamos impostos e sustentamos a lenta máquina
temos de ter olhos atentos ao circular por lá.
Crimes também se intensificaram na altura
da Cipriano Barata com Sorocabanos e Leais Paulistanos. O alvo vai desde carros
que cruzam o farol até os estabelecimentos ali vizinhos, situação que na
avaliação dos moradores começou a ocorrer após a ocupação irregular da área na
Bom Pastor, próxima à rua dos Sorocabanos. Situação semelhante ocorre na rua
Clemente Pereira, onde moradores reclamam da falta de policiamento e do elevado
índice de roubo de carros. O caso é tão grave que morador que acabou de se
mudar para edifício nesta rua relatou ter tido dificuldades em renovar o seguro
de seu carro. Segundo ele, “as seguradoras dizem não fazer seguro com o CEP da
Clemente Pereira”. A única companhia que aceitou em fazê-lo cobrou o dobro do
preço.
Já na rua Xavier de Almeida, próximo ao
condomínio Vila Imperial, tornou-se rotina o arrombamento de carros
estacionados, estepes roubados, furtos e depredações. Situação semelhante vivem
condomínios próximos ao Clube Atlético Ipiranga.
Tal escalada da violência no bairro motivou
vários síndicos de edifícios a se unirem para buscar condições mais seguras no
bairro. Mediante abaixo-assinado, estão mobilizando os moradores para cobrar
ações das autoridades e pela sinergia tentar fazer o que o poder público não
faz.
Segundo o capitão da
Polícia Militar Douglas La Femina Jr., “existe uma distribuição de viaturas e
efetivos que é equânime em todo o bairro. Não existe uma localidade no bairro
que seja mais ou menos policiada que outra”. Ele atribui à escuridão das ruas e
às atitudes de cada pessoa como fatores que contribuem para aumentar os índices
de criminalidade. Também afirmou que conseguiu apoio da força tática para
aumentar repressão à criminalidade na região.
O Major Samir do 46º batalhão da Polícia
Militar explica que grande parte deste problema decorre do fato de a legislação
não ter evoluído de acordo com a criminalidade. “O envolvimento de menores em
crime toma um tempo enorme da polícia. Enquanto as viaturas estão envolvidas
com isso, o policiamento preventivo é sacrificado”, afirma.
Catalizando tais demandas, o presidente do
Conseg Ipiranga, Ségio Yamada, esteve no último dia 26 no comando geral da PM
para, em nome do Conseg Ipiranga, Saúde, Sacomã e Heliópolis e Parque
Bristol, protocolar reclamação contra o policiamento e pedir aumento do
efetivo na região. Enquanto aguarda estudo, o capitão Douglas afirmou que a
defasagem de efetivo policial não é privilégio do Ipiranga.
Contra a CET, pesaram reclamações sobre o
descaso de seus agentes no atendimento de reclamações de moradores que têm de
conviver diariamente com carros estacionados em frente de suas garagens.
Morador da rua Bom Pastor, e que convive diariamente com este problema por ter
academia e salão de beleza como vizinhos, diz acumular protocolos de
reclamação. Segundo ele, a única coisa que conseguiu de um agente da CET foi o
convite para sair com ele no braço. “Claro que este funcionário além de não me
atender, ainda cobriu sua identificação. Anotei a placa de seu veículo e
denunciei na CET, mas não recebi qualquer retorno“. Certamente se fosse uma infração
de trânsito, o reclamante não deixaria de receber com eficiência a multa para
pagar.
Não menos incômodo têm os vizinhos do
Lanxereta. Segundo moradora da região, o barulho e a bagunça começa na
quinta-feira. O delegado da 17ª Delegacia de Polícia, Levi d'Oliveira, informou
que há pouco tempo foi feita uma diligência, mas nada foi encontrado. “Como o
número de reclamações é muito alto, a polícia continuará a fazer batidas lá”,
afirmou. A subprefeitura ficou de verificar o alvará para checar se tem autorização
para ficar aberto até tarde e tocar música.
Para completar o quadro caótico por que
passa o bairro, foram cobrados das autoridades medidas emergenciais com relação
à atuação de marginais no Parque da Independência, que além de roubar turistas e
usuários do parque têm promovido a degradação do bem público, chegando ao
absurdo de causar incêndio criminoso próximo ao Monumento do Ipiranga. A
Polícia Militar começou nesta semana um monitoramento do local, onde afirma ter
feito três flagrantes com entorpecente. Sobre este tema, o advogado Eduardo Augusto Pinto cobrou compromisso da Guarda Civil
Metropolitana no exercício de suas funções. “Esperamos que a GCM cumpra sua
função legal de Proteção ao Patrimônio Público, principalmente no
Parque da Independência, onde deve fazer jus ao seu papel de proteger os bens
públicos.”
Em resposta, o inspetor Becker afirmou que
a GCM está com proposta de deixar destacamento fixo no Parque da Independência.
Não afirmou, contudo, quanto tempo levará para colocar isto em prática.
Esperamos que não seja o mesmo tempo que se levou para promover o restauro do
Museu nem tampouco que o Parque acabe fechado quando a situação tornar-se
insustentável.
Cristina Feres – historiadora
e jornalista